segunda-feira, 3 de maio de 2010

COR, CORES, COLORIDOS.






Da minha cozinha, passando pelas ruas do mundo.

O que é que eu sei fazer? Descobrir tendências, combinar cores, texturas, decorações, criar colecções à medida dos clientes e dar-lhes sugestões para novos caminhos criativos.

A vida já me deu a conhecer muito, do mundo e de vidas, distintas. Hoje, sei que o prato americano deve ter 28cm de diâmetro e o europeu 26cm. Que os pacotes de manteiga na Suécia não têm as medidas do francês. Que em Israel gostam das tendências americanas e os americanos do charme e requinte francês, de Itália, a história, Armani e Amalfi, e das "pastas e pestos", vendas garantidas, os famosos "pasta set" e "plat à fromage"... Que na Suécia as cores mais apreciadas são o branco, o azul e o amarelo da bandeira nacional. Na Noruega, para além do Pai Natal, existe a Mãe Natal, e a família toda. Compram muitos candeeiros (porque têm pouca luz natural) e da última vez que perguntei, não pagavam electricidade. Os alemães adoram cores pastel, rosas, verdes, não suportam atrasos e não nos convidam facilmente para jantar lá me casa. Os franceses, os famosos e constantes "taupes", Paris - a cidade dos românticos, da moda e do croissant, Piaf a Ferré e do "kir" ao aperitivo numa esplanada em pleno Inverno. Espanha vive as cores fortes, a monarquia , a guerra civil, o museu do Prado, os vestidos das sevilhanas, as touradas, Almodóvar. 100% nacionalistas. Os italianos de vermelho Ferrari e verdes azeite, azeitonas (já se deram conta que em qualquer canto do mundo anda sempre um italiano a viajar?), gostam de tudo o que é elegante e depurado. Amarelos, muitos, na América Latina, de Frida ao Tango, dos Maias à Terra de Fogo.

E nós? Branco e azul, do mar, dos azulejos, das casas alentejanas, só gostamos de utilizar na mesa porcelana, branca ou decorada. A nossa bandeira tem verde, do Gerês, do Bussaco, das serras; amarelo, dos doces de ovos conventuais da ourivesaria, do sol e da luz. Sagres, Zambujeira do mar, os Jerónimos, a torre da Universidade de Coimbra e a ria de Aveiro, a Foz e rio Douro, Moledo e Caminha. Gostamos muito de castanhos, mel e areia, claro, as madeiras importadas de África e do Brasil, as tonalidades dos nossos terrenos agrícolas, as especiarias da Índia, a imensidão de areia da nossa costa. Gostamos de preto. É elegante, é internacional, é fado de xaile, é capa e batina, de Amália a Mariza. O Brasil deu-nos a cor da multiplicidade de culturas, da música, e o cravo de Abril o vermelho da paixão.

Todo o mundo gosta de cor. A diferença está tão somente na forma de as conjugar e é fascinante como todas elas se podem associar.

Recentemente apliquei na minha nova cozinha azulejos 8x8, antigas amostras de cor da Cerarpa. Quando entreguei ao senhor que as aplicou disse-lhe: não se preocupe, aplique sem olhar para as cores, vá tirando das caixas. O resultado é que todas as manhãs enquanto espero que o café se concretize fico fascinada por descobrir mais uma feliz combinação.

Como me disse um dia um cliente, "tudo o que é feito com paixão, tem futuro", e como paixão não falta...